Uma conversa

As fotografias selecionadas para esta mostra “Uma conversa” representam um pequeno recorte numa das séries a que me dedico desde a década de 1980. Nestas imagens procuro apresentar um pouco da vida da cidade de Ouro Preto, tentando sempre corresponder ao ser mineiro ouro-pretano, em sua profunda relação com a inusitada paisagem urbana, na singeleza das cenas cotidianas, focando os encontros casuais ou não. Neles, acontecem quase silenciosas conversas de rua, janela ou porta, tradição tipicamente mineira que resiste às pressões da vida contemporânea. Na série “Ouro Preto Corpo e Alma”, apresentada pela primeira vez em 2008 e publicada em livro em 2012, algumas fotografias já apontavam este caminho.

Os mineiros, especialmente os das antigas e pequenas cidades e vilas, entre tantas tradições, têm o hábito de protagonizar fugazes, raramente demorados, encontros nas ruas, nas pontes, nas praças, nos chafarizes, sentados nas soleiras ou nos muros, debruçados nas janelas, ou ainda sob a sombra das igrejas barrocas. Muitas vezes ao acaso; com freqüência antes ou após a missa ou a procissão. Neles, contam casos, confabulam, observam, desconfiam. São conversas mansas, às vezes parecem silenciosas ou até solitárias, e eternas. Muitas vezes passam despercebidas. Nelas, os moradores se confundem com a paisagem da cidade e a própria religiosidade. Tornam-se também pau-a-pique, pedra, minério e ouro; passo, oratório e montanha.  De repente, se dispersam e retornam pelas ruas tortuosas, quase sempre ladeiras íngremes, para suas casas encostadas umas às outras. Em silêncio. Em Ouro Preto, tal hábito se mantém e encanta.

A fotografia, relicário da vida e da imaginação, conversa conosco e nos conta um pouco disso.

As fotografias apresentadas foram feitas entre 1984 e 2014 em filme negativo preto e branco 35mm e ampliados em papel fotográfico por processo químico tradicional no tamanho 40x60cm.

Alexandre Martins - Ouro Preto, 2015