Caminhar sem fim

Apresento nesta série de fotografias, dentro da linha de trabalho que desenvolvo, mais um pouco da cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. São fotografias realizadas de 1984 a 2017. Nelas, procuro corresponder ao ser mineiro ouro-pretano em sua profunda relação com a instigante paisagem urbana, na singeleza das cenas cotidianas, buscando a permanência de traços genuínos na aventura do tempo. O foco agora se volta para o costume mineiro de caminhar pelas ruas, o que pode ser visto de forma peculiar, conforme eu já apontava na minha série matriz “Ouro Preto Corpo e Alma”.

Há quase 40 anos, além dos primeiros contatos com as antigas cidades mineiras do Ciclo do Ouro, fui sensibilizado por textos importantes que mostram que essas povoações se desenvolveram basicamente ao longo de “estradas tronco”. Estradas que incorporam casario e vida cotidiana, virando rua. Note-se que estes caminhos sinuosos nas montanhas são mais que passagens entre um lugar e outro; vão muito além: são caminhos entre destino e fé, entre sonho e perda, entre o sempre e o nunca.

Nessa Minas ancestral, os moradores, que são a alma de qualquer lugar, ainda hoje preservam seu jeito próprio. Contudo, muitas vezes passam despercebidos, talvez engolidos pelo olhar e fazer apressado da atualidade. Mas eles estão bastante presentes, e podem ser vistos consubstanciados com essa paisagem urbana e, especialmente na cidade de Ouro Preto, com o jogo de luz e sombra e de linhas e texturas.

Por natureza interiorizados, esses mineiros são caminhantes contumazes, pela própria necessidade de vencer vales e montanhas em busca de horizontes. Aparecem e desaparecem, vindo e indo, se aproximando e se afastando, virando à esquerda e à direita, sempre subindo e descendo, entrando e saindo. Invariavelmente seguem com intimidade e cumplicidade o ritmo do tangível e do intangível traçado pelas ruas, emolduradas por suas fileiras de casas e igrejas.

Em Ouro Preto, que comove, cada um segue num caminhar sem fim, pelas ruas tortuosas, quase sempre ladeiras muito íngremes, normalmente em silêncio e deixando para trás uma conversa. Com a fotografia, caminho também.

 

Alexandre Martins, março de 2018