O Coletivo Olho de Vidro (formado nesta décima terceira exposição pelos fotógrafos
Alexandre Martins, Eduardo Tropia e Heber Bezerra e pelo poeta Guilherme Mansur)
rememora o centenário da publicação do poema “Vila Rica”, de Olavo Bilac.
O Olho de Vidro é conhecido pela interpretação livre dos temas propostos e pelo trabalho
isolado de cada qual de seus integrantes – sejam instalações, vídeos, fotografia analógica
e digital, poemas visuais ou poemas-objeto.
Em sua “procissão espectral”, Bilac discorre sobre a “triste Ouro Preto” – que se revela
com choro e vela – nas primeiras décadas do século passado.
Vila Rica
O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;
Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição
Na torturada entranha abriu da terra nobre:
E cada cicatriz brilha como um brasão.
O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,
O último ouro do sol morre na cerração.
E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,
O crepúsculo cai como uma extrema-unção.
Agora, para além do cerro, o céu parece
Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu…
A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,
Como uma procissão espectral que se move…
Dobra o sino… Soluça um verso de Dirceu…
Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.
Olavo Bilac