Exposição Vila Rica, do Coletivo Olho de Vidro – 2019

O Coletivo Olho de Vidro (formado nesta décima terceira exposição pelos fotógrafos

Alexandre Martins, Eduardo Tropia e Heber Bezerra e pelo poeta Guilherme Mansur)

rememora o centenário da publicação do poema “Vila Rica”, de Olavo Bilac.

O Olho de Vidro é conhecido pela interpretação livre dos temas propostos e pelo trabalho

isolado de cada qual de seus integrantes – sejam instalações, vídeos, fotografia analógica

e digital, poemas visuais ou poemas-objeto.

Em sua “procissão espectral”, Bilac discorre sobre a “triste Ouro Preto” – que se revela

com choro e vela – nas primeiras décadas do século passado.

 

 

Vila Rica

 

O ouro fulvo do ocaso as velhas casas cobre;

Sangram, em laivos de ouro, as minas, que ambição

Na torturada entranha abriu da terra nobre:

E cada cicatriz brilha como um brasão.

 

O ângelus plange ao longe em doloroso dobre,

O último ouro do sol morre na cerração.

E, austero, amortalhando a urbe gloriosa e pobre,

O crepúsculo cai como uma extrema-unção.

 

Agora, para além do cerro, o céu parece

Feito de um ouro ancião que o tempo enegreceu…

A neblina, roçando o chão, cicia, em prece,

 

Como uma procissão espectral que se move…

Dobra o sino… Soluça um verso de Dirceu…

Sobre a triste Ouro Preto o ouro dos astros chove.

 

Olavo Bilac